terça-feira, abril 01, 2008
Deus (parte II)
« No passado, você suportava mal o exibicionismo pretensioso de Keith, soltando grunhidos de euforia e cantarolando em falsetto a melodia de Concerto de Colônia ao fundo. "pode ser doença, e doença pega. Se já não pegou...", você diz para você mesmo agora em tom de autocrítica, à espera do esperado.
"Cada um inventa a sua marca registrada", um colega americano te disse há algum tempo, para esfriar a sua reação negativa ao estilo do pianista, acrescentando que não havia um só crítico de jazz que tivesse deixado o detalhe sem comentário. Para elogiar ou para esculhambar o pianista. Ele ainda te explicou que no show business americano é esssencial o toque de originalidade para alcançar o grande sucesso. Também fazem parte do espetáculo de Keith as piruetas no banquinho e a cabeça baixa contra o piano, o que lhe custa dores tremendas nas costas e gastos piores com médicos.
...Keith Jarrett não podia ser simplesmente um Thelonious Monk a menos, um Art Tatum ou um Bill Evans a mais.»
Silviano Santiago. Keith Jarrett no Blue Note (Improvisos de Jazz)
As idiossincrasias performáticas de Keith Jarrett não são puro folclore, que nada acrescentam à sua música; é impossível separar as duas coisas. Grunhidos e esbarrões no piano são sons "intencionalmente" acrescentados às notas musicais. Intriga, na narrativa de Santiago, a "espera do esperado", que pode significar duas coisas bem distintas: ceder a toda essa ambiência da música de Jarrett, com soluções aparentemente romântico-previsíveis; ou bem o contrário disso: dar-se conta de que a "euforia" de suas "soluções românticas" é a superfície de uma explosão sonora, sobretudo harmônica e estilística, extremamente arriscada.
(...)
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