quarta-feira, março 26, 2008

ela, a pantera




"Em Cat People a heroína, Simone Simon, está sempre voltando para ver a pantera na jaula. Desde a primeira cena em que ela desenha diante da jaula, sabemos que é ela a pantera. Ela é suave e sinuosa. O herói se enamora, não por ela, mas pela sua felinidade. É este princípio o que o envolve e o que envolve o filme nas sombras. Quando a rival da heroína sente-se seguida, ela não vê nada. É apenas a sombra que a persegue entre as folhas que se mexem. Quando a rival mergulha numa piscina, o ambiente está envolto em sombras. Não se vê a pantera, mas se ouvem os rugidos em volta. A heroína se esgueira por entre as sombras como na floresta, rapidamente entrevista por entre as árvores. Se a pantera é uma metáfora, ela é ambígua, pois tanto pode ser da voracidade quanto da sedução. Ela é fascinadora justamente por ser perigosa. Temos aqui uma ambivalência básica, pois subterraneamente se identifica a ferocidade com o fascínio da beleza feminina. Mas ela não quer ser feroz. Se ataca os outros, ela o faz porque isso é da sua natureza. E no fim de tudo realmente nos seduz, pois todos nos identificamos com a solidão da fera, que não ataca por maldade, mas porque deve."

Sebastião Uchoa Leite. Obra em dobras.

Um comentário:

Anônimo disse...

necessario verificar:)