terça-feira, abril 22, 2008

docência

« Há certamente uma pedagogia das matemáticas, uma didática das línguas vivas, há métodos adequados ao ensino das ciências, haverá técnicas úteis, procedimentos eficazes, regras a ter em conta. Mas... os resultados serão diferentes se se tratar de um professor exigente e genuinamente interessado pelos seus alunos ou de um professor descuidado do seu trabalho, desatento, detestado, troçado ou simplesmente desprezado. O método mais correto não salvará um professor que não saiba obter a amizade e o respeito dos seus alunos. O método mais arcaico fará maravilhas nas mãos de um professor estimado, que ensina de forma rica, entusiástica e apaixonada aquilo que ama, que se interessa verdadeiramente pelo saber que ministra, pelos alunos que lhe foram confiados, pelo modo como vivem e sentem e pensam o mundo que os rodeia e que, mesmo inexperiente ou ignorante das sofisticadas regras didácticas aconselhadas para o ensino da sua disciplina, saiba estabalecer com os seus alunos esse parentesco insondável e dialógico que constitui o segredo de todos os magistérios.
(...) Há um isomorfismo fundamental entre o professor e os seus alunos que faz com que, mais do que aquilo que sabe ou julga saber, cada professor ensina sobretudo aquilo que é.
No entanto, "aquilo que se é" não é um puro dado, mas uma tarefa. "Aquilo que se é" é aquilo que é necessário ser, que importa construir. Não se trata pois —e este é para nós um ponto de capital importância— de fazer o elogio de uma qualquer espontaneidade bem intencionada mas impreparada e inculta, de uma inocente autenticidade ou de uma universal sociabilidade, mas de resgatar, para o professor, o direito e o dever de ser exigente para consigo mesmo, para com a sua profissão, para com os seus alunos e para com o saber que, face a eles, representa, incarna e deve actualizar.
Para lá e através de tudo o que é dito, o que passa fundamentalmente para os alunos é a figura humana, a presença concreta do professor, o modo como com eles se relaciona, como se interessa pelos seus interesses, o modo como vive e cultiva a sua profissão, o modo como se situa face ao saber que ministra, a paixão que o anima. »

Olga Pombo, A escola, a recta e o círculo

Um comentário:

Anônimo disse...

Filipe,feliz por hoje ter conhecido teu blog e ter viajado nele e através dele mas o que mais me tocou além de ter-te encontrado [o blog fez -me lembrar do teu avo paterno],foi ter lido este texto e ver como se pode expressar de uma forma tao linda e clara a paixao por lecionar e o interesse e afeto que temos por nossos alunos.Com carinho e saudades Marta