segunda-feira, julho 19, 2010

pensamento próprio

"é quase impossível pensar alguma coisa interessante e nova: sim, tudo já foi dito. Mas é essencial dizer as coisas importantes novamente, porque as pessoas delas se esquecem." Eu havia escrito alguma coisa parecida com isso, há tempos atrás, achando que estava dizendo algo interessante e original, até encontrar esse mesmo pensamento num fragmento de Paul Valery... É realmente impossível ser original! Mas não deixa de ser uma maravilha poder ser tão original quanto um Paul Valery.
Seria preciso acrescentar, talvez, uma cláusula de modéstia, para não dar a impressão de que o que importa realmente não é a idéia em si mesma, mas o desejo de reconhecimento, o ego de quem acha que merece ser reconhecido (e admirado e respeitado) por ter escrito alguma coisa realmente original? Mas o que seria uma "idéia em si mesma"?

domingo, julho 18, 2010

porque eu não gosto do Gullar...

retomo esse espaço, depois de um bom tempo ocioso. Tem uma ou outra coisa aqui que acho besta, sem pé nem cabeça. Como não tenho disciplina nem tempo suficiente para gerir o blog de modo mais inteligente, acabo sucumbindo à prática de postagens aleatórias, de pequenos pensamentos que são mais a marca de sua própria precariedade do que a promessa de qualquer coisa, Tudo bem, você pode dizer que a vida é parecida. O fato é que o desejo de expressar um pensamento, compartilhar uma idéia (uma imagem, um som, etc.) supõe a crença em ser mais a promessa de alguma coisa do que mera contribuição precária ao barulho que já existe... Então, abro o jornal e encontro o texto do Ferreira Gullar, e me lembro de alguns amigos (poucos, é verdade) que o acham genial... Ok, ele tem uns poemas bonitos, é um cara importante para a cultura brasileira, comunista histórico, etc (e, como dizia o Planeta Diário, ele é um gato!). Mas há tempos que, até onde minha miopia de quatro graus me permite enxergar, ele transformou-se num dos maiores representantes de uma esquerda reacionária infeliz, na política e na arte, com sua santa cruzada contra as vanguardas. Nunca perco tempo com discutir política em baixo nível, mas me ocorreu que seria bom justificar, para esses quatro ou cinco amigos que adoram o Gullar, as razões do meu desgosto. Então, hoje, no jornal, eu leio: "O caso extremo do experimentalismo na literatura foi o «Finnegans Wake». de James Joyce. Felizmente, a literatura de ficção não o tomou com exemplo a seguir, como as artes plásticas fizeram com o urinol de Marcel Duchamp. Se isso houvesse ocorrido, não teríamos hoje as obras de Borges, Faulkner, Clarice Lispector etc. Sem exagero, a literatura ter-se-ia tornado indecifrável e ilegível" (Folha, 18 de julho de 2010). Francamente, que tipo de "argumento" é esse? Em primeiro lugar, ele pressupõe que as artes sempre obedecem a um único padrão, tomando um exemplo a seguir. Em seguida, nos faz deduzir que, por terem "seguido o exemplo" do urinol de Duchamp, as artes plásticas tornaram-se indecifráveis e ilegíveis. Quanta bobagem!