segunda-feira, maio 18, 2009

minima moralia

Eva de Lot Torelli

de todas as coisas que não consigo lembrar, as piores são aquelas que esqueço logo após pensar. É como cair no abismo, ou pior. É como se eu tivesse lá me jogado de propósito. Afinal, servem para quê a caneta, a agenda, um pedaço de papel? Dizem que, se esqueceu, não era importante. Insensatez! Não há nada mais importante do que aquilo que se perde nas sombras da consciência, e sobretudo por um átimo, um descuido.

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e eu queria saber poder (ou poder saber, o que dá aqui quase no mesmo) denunciar cada uma dessas rachaduras do cotidiano que fazem a vida ser menos, ou que ao menos a cobrem com um mistério estúpido. Os olhares desconhecidos e assustados que se cruzam inutilmente numa livraria, por exemplo, e tudo o que esse tipo de banalidade, muitas vezes carregado de uma violência inaudita, pode revelar... Mas esse é um delírio que só faz sentido numa freqüência muito esotérica da realidade... e sobre isso sou forçado a não dizer mais nada... [ ... ]

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por que haveria qualquer virtude em admitir-se limitado, incapaz em diversas dimensões da vida, mas sobretudo na intelectual? Apenas porque a prepotência, a soberba e congêneres são comportamentos execráveis? Existe algo mais pretensioso do que legislar sobre a virtude, e ainda por cima "modestamente"...?

4 comentários:

ANANDA disse...

Adorei. Principalmente os comentários sobre idéias que se perdem. Mas lá vou eu de volta ao Aurélio, levando comigo átimo e congêneres.

beijo!

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

como é que posso comentar tal desnudamento sem perder as roupas no meio da rua? sem perder a idéia de antes de dormir dizendo" amanhã escrevo isso", e o amanhã não chega nunca, pois foi perdido prá sempre.
ninguém comenta muito pois vc fala tão bem que qualquer comentário soa sempre muito pouco.

Ligia disse...

GOSTEI MUITO

Silvana Vignale disse...

De acuerdo, no siempre lo que olvidamos es lo menos importante... lo que recordamos, tanto como lo que nos olvidamos nos constituye... mucho más cuando a veces la memoria (será ese aparato?) nos da un tropezón y acabamos recordando algo que estaba en el fondo oscuro del alma (por llamarle de algún modo) o terminamos olvidando algo que parecía iba a marcarnos (como un amor).
Brindo por las memorias y los olvidos! Y por los tropezones de la memoria!