quarta-feira, maio 06, 2009


Neste ano "comemoram-se" 70 anos da morte de Freud. A data é, evidentemente, uma desculpa para comemorar o próprio Freud, sua existência, suas idéias, embora alguns possam dizer, em júbilo, "já foi é tarde"... Sempre achei estranho comemorar alguém pela data de seu decesso, o que talvez não se aplique no caso de Freud, que não veio trazer a salvação, mas "a peste"! A peste da consciência (terapêutica!) da infelicidade coletiva; a consciência de nossa natureza perverso-polimorfa; a destituição da soberania da consciência por forças estranhas que a atravessam e a ultrapassam... O homem não é mais senhor em sua própria morada... Para quê repetir os chavões da psicanálise num espaço como este? Para quê começar a falar sobre algo que certamente não cabe num "post de blog"? Fazê-lo parece arbitrário como tudo o que, nessas efemérides previsíveis, foge à radicalidade do seu próprio questionamento, isto é, o questionamento da domesticação a que sistematicamente a sociedade submete um pensar perigoso, incerto, doloroso. O fato é que, hoje, abri minha agenda, e lá estava escrito "6 de maio. Sigmund Freud (1856-1939)". E me ocorreu que o blog não deixa de ser um experimento de autoanálise muito heteróclito, e que, ao invés de ceder ao desejo (recorrente!) de retirar do horizonte do olhar alheio esses "fragmentos de qualquer coisa" que falam muito e quase nada sobre mim, talvez o melhor seria tentar radicalizá-lo! Será?

3 comentários:

ANANDA disse...

Boa pergunta. Eu, que também utilizo este heteróclito experimento de autoanálise - e com esta função ainda mais descaradamente que você, me pergunto a mesma coisa quase todos os dias em que o acesso. Mas confesso, a palavra heteróclito me levou ao Orélho (assim batizado pelo meu pai, que com ele me presenteou).
Saudades, beijos, A

Filipe Ceppas disse...

esse elo subterrâneo dos comentários ajuda a manter a suspeita de que nossa atividade não é tão solipsista assim... ( ops, ôtra palavrinha pr'Orélho! :) bjsssss.

ANANDA disse...

Fui até o Aurélio. Só o que posso dizer em resposta é: speak for your self! (sem querer soar muito rude) Mas eu sou uma solipsista convicta! Ou pelo menos minha alma de artista é. beijo