um lindo poema de Tatiana Pequeno
(porque todo o dia é dia do professor!)
RIO PARA PROFESSORAS II
E levanto a voz em tom ameaçador
de desorganizar vidas supondo que
o calor atenue o ímpeto das desmedidas
para um sinal sonoro de escola superar
a fala
enquanto saio correndo pelo entorno da baía
a vergar o corpo de cal, suor e chuva
porque também chove e porque também os olhos
são graves de tarefas, plenos de ataques a crediários,
encostas, ementas, trens e teorias.
No largo da carioca o almoço é um enxame sem favos
a rapidez é desonesta feito a bondade infinita das dicas para
cursos preparatórios de língua portuguesa e madarim.
Não falar
de si e da incompreensão do suicídio de ian curtis ou dever chorar
o intervalo da tarde somente minutos antes da plenitude dos remédios
atravessando em andor para tantas eras de raridade amparo
provimento, que dormir em vidros de coletivo parece conforto mítico.
E se não bastasse a fé de percorrer três cidades durante um dia, eu
diria que o afago inexiste nas trincheiras e mais: há todos os outros dias
que não segunda-feira
de pé quatro e vinte e cinco da manhã
em cozinha a demandar reparos de eletricidade
e encanamento inaugurando a língua com fervor
e doçura de cafeína preparada então para
desvirginar o primeiro metrô do dia
num vagão só para mulheres ferozes
de cansaço já nas primeiras horas matutinas.
E a pavuna me receberá resplandecente, no cheiro
de fritura e criolina em desajuste
com o volume e o fulgor das frutas
irrompendo o mundo para apaziguar
as dores orfãs e domésticas dos meus pés
irreparáveis e contínuos para asfalto e infantaria.
Voltar significava acúmulo, pétala soltando
a condição de rio em nome de uma voz alterada
grave e enorme como a poeira de quem aguarda
transporte alternativo na linha do trem nos centros
das cidades da baixada. E se volto à condição de
aprender, é grande o impedimento de falar para um
homem e para a disputa cruel das crianças: posso dar
o peito do poema a elas e esperar que sejam
nutridas pela falsidade insustentável de outros
desconfortos, mas que tragam a mim os alfinetes
das insígnias que forjarão a narrativa de suas
tragédias encenadas no dispositivo
insólito que é o real. Era um sonho saber
o que fazer disso,
saber cruzar histórias díspares e iguais
sem corromper o medo ou sobrepujar a ética
mas parece que ultimamente pouco
importa
o quanto sabotamos as próprias guerras
e o que fazemos solitários depois da
trigésima gestação de risco, porque os
pais chegam abruptos e também eu
assino termos de condenação e julgamento
prometendo, no que resta para o mundo,
não mais interceder no que é humano e
esquecer por definitivo os desdobramentos
dos rios das palavras e do amor sobre a terra.
domingo, outubro 17, 2010
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lindo
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